A religião foi criada pelo Homem, sobre o Homem, para o Homem.
Não sou religioso mas respeito todas as formas de confissão, nomeadamente aquelas que foram capazes de cativar biliões de adeptos ao longo dos séculos. Tenho um desdém profundo pelo anti-clericalismo das burguesas Câncio e Co. mais para mais quando não entendem que a religião proporciona ensinamentos extraordinários acerca do mundo e viver ignorando-a é viver sem esses ensinamentos, como querer escrever artigos jornalísticos sem dar importância aos fundamentos da linguagem (o que ela faz).
Nela encontramos a prova de que a humanidade, apesar dos apetrechos tecnológicos, pouco ou nada evoluiu e que milhares de anos existiam as mesmas características que hoje definem a humanidade: A mesma ousadia, a mesma esperança, a mesma generosidade mas também a mesma ganância, cobiça e avareza, perjúrio.
No antigo testamento (livro do Génesis) e também no Corão, vem mencionada a história do profeta Joseph (Yousef, Yusuf e outras adaptações). Filho de Jacob e o preferido do progenitor entre os 12 irmãos, foi trapaceado pelos mesmos e vendido como escravo, terminando no Egipto politeísta em casa de Potiphar, o chefe da segurança do Faraó. Judeu, o tratamento teria sido tenebroso se não caísse nas boas graças de Potiphar quem o nomeou governante da sua casa onde tinha espaço de circulação e manobra. Alimentou-o e acomodou-o resgatando a sua existência; Sem Potiphar, o profeta, teria seguramente definhado.
A casa do guarda era bem guardada. O quarto do casal estava protegido por 7 corredores sucessivos que perfaziam o perímetro da habitação. Corredores intercalados por paredes espessas e portas inquebráveis. O acesso era assim, virtualmente impossível: Ninguém podia entrar, mas também, ninguém podia sair.
Como servente, Joseph tinha de obedecer a todas as ordens provenientes do segurança ou de outro membro da respectiva família. Isso incluía a mulher de Potiphar, chamada de Zuleikah na Tora Judaica mas apenas de “a mulher de Potiphar” na Bíblia e “a esposa de Azis” no Corão (Azis significa em Árabe poder, força e “algo cuidado”, podendo referir-se a um segurança). Os livros sagrados dos Cristãos e dos Muçulmanos recusam-lhe (e bem) um nome próprio.
Joseph era detentor de uma beleza incomparável, dizendo o Corão que de toda a beleza entregue aos homens do mundo, Joseph teria 50 % nele concentrada. Era também como um homem bom, devoto aos seus objectivos e valores. Por essa razão, desde o primeiro contacto entre ambos, a esposa do seu mestre, desejaria dormir com o escravo. Por cada vez que se cruzavam, ela comandava “deita-te comigo” mas a fidelidade ao homem que o acolhera e os valores princípios judeus/cristãos/muçulmanos não o deixavam cair em tentação.
Num dia em que todos haviam saído excepto Joseph, Zuleikah terá chamado o escravo ao interior dos seus aposentos. Como bom servente, obedeceu. E de cada vez que cruzava uma das sete portas, a esposa de Potiphar trancava-a com uma fechadura inquebrável. Chegando ao quarto, comandou novamente que o escravo se deitasse com ela. E enquanto a recusava, ela tentou forçá-lo a penetrá-la.
Sem outra possibilidade de fuga, dirigiu-se à porta em corrida, pedindo a Eloah/Deus/Alá que o permitisse escapar. E uma por uma as portas foram magicamente abertas, enquanto que o profeta fugia da megera. Esta, numa última tentativa, agarra a sua veste mas mais uma vez, miraculosamente, o tecido rasgou-se num instante, permitindo a fuga de Joseph. Foi assim capaz de fugir à violação.
Então a esposa de Potiphar, acusou o servo de violação.

A mulher despeitada é o animal mais perigoso do mundo. Traiçoeira, não lhe bastava procurar desrespeitar o esposo através do adultério, mentiu também sobre a idoneidade de um homem que nunca falhou para com os seus princípios. Assim que Joseph saiu do palácio, gritou em plenos pulmões que sofrera uma tentativa de violação por parte do Judeu. Rapidamente a palavra se espalhou e trouxeram o desgraçado à presença da mentirosa, assim como do marido que lhe prometia a morte.
Na sua versão dos factos, explica a forma como fora perseguido pela harpia desaustinada. E recorda-lhe “vede a minha camisola, mestre. Se a sua mulher a agarrasse para proteger, teria um buraco na parte da frente; Mas se ela me agarrasse porque me perseguia, o buraco estaria na parte de trás”. Noutra versão, foi na reacção da esposa face à ameaça de matar Joseph (“Não!”) que o segurança se apercebeu da mentira da esposa.
No fim, Joseph foi mandado para a prisão (e não para o cadafalso) para esconder a vergonha de Potiphar. Mas, mais adiante, tornar-se-ia o braço direito do faraó. Essa é outra história. Esta conta 3561 anos. Mas podia ter acontecido ontem, não?
A natureza humana não mudou assim tanto, melhora a tecnologia mas o cérebro é mais lento
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Grande história! A bíblia nunca deixa de nos surpreender.
“Mas podia ter acontecido ontem, não?”
Podia. Não consegui deixar de me lembrar de um Conto do Roosh V onde um gajo chamado John de Los Angeles era consecutivamente tramado por mulheres (http://www.rooshv.com/the-rat-mobility-experiment).
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Grande texto! Porra, não há nenhum autor estrangeiro – à excepção do Houellebecq – que me dê tanto prazer como o Roosh. Que génio. Ainda para mais um tipo formado em Microbiologia
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Bonita história. Vocês sabem de uma ou outra história por que passei onde acabaram a tentar difamar-me. Isto é uma maneira de protegerem o ego, às vezes também vemos os homens espalharem estas mentiras sobre as mulheres que os negaram ou para quem não estiveram à altura na cama. Não é exclusivo das mulheres, mas de forma perigosa, diria que as mulheres o fazem mais que homens.
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A mulher não seria presa nem morta por tentar abusar de um homem.
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