Encostei-me ao balcão de um bar, pela 1 da manhã, quando duas raparigas estrangeiras se aproximam do mesmo por detrás de mim. Tento chamar o empregado, mas não tenho sucesso. Sai uma torrente de palavras entre as quais só consegui distinguir “yeah” e “party” pela boca de uma das queridas, conseguindo fixar a atenção do funcionário. Acresce que o supracitado é preto.
– We want two mojiiiiiiiiiiiiiitos!
– Desculpe, boa noite. Não me podia servir duas imperais, um sommersby e uma garrafa de água? – pedi
– He’s going to attend us first! – avisa a rapariga
– Desculpa mano – diz-me o “mano” – Não te vi. São dois mojitos, duas imperiais, uma sommersby e uma garrafa de água?
– Não, os mojitos não são para mim. – Estendo-lhe uma nota de 20 €.
Com um ar confuso, o rapaz afasta-se da nossa localização e prepara algumas bebidas. Regressa com dois Mojitos que entrega às raparigas e uma moeda de cinquenta cêntimos que me dá com um sorriso grande.
– Tens aqui mano! E são duas imperais e um sommersby, certo?
– E uma água! Mas onde está o meu troco?
– Então, o teu troco está aqui. Pagaste os Mojitos, e…
– Mas eu não quero os Mojitos!
– Não estás a pagar as bebidas às miúdas?
– Não, não estou!
– Ah, pensei que estivesses com elas – Faz uma cara azuada e dirige-se às raparigas, novamente sorrindo – Girls, so it’s ten euros for the mojitos – Devolve-me a nota de vinte. Tendo feito o pedido primeiro, continuo a não ser servido. Olhei para o relógio. Estaria há 10 minutos esperando pelas bebidas. Os meus amigos fitam-me da porta, impacientes.
– Desculpa lá – diz-me quando elas se afastam do bar – eu por acaso até tenho namorada, mas sabes como é isto. Gajas! Diz-me lá então, o que é que queres?
– Imagina que estaria eu trabalhando por detrás desse bar e eras tu o meu cliente. Imagina que te ignorava enquanto dois brancos se aproximavam à posteriori e lhes dava a atenção que te recusei. Imagina que os servia compulsivamente com precedência, ou assumia ab initio que o teu dinheiro serviria para pagar as bebidas deles, como se fosses seu servente. Imagina que justificava a prioridade e te fazia perder dez minutos, pedindo a tua compreensão porque, “sabes como é, brancos”. O que me chamavas?
Quero, por favor, o livro de reclamações.
Ainda existe muita discriminação em Portugal