Através da palavra, do despacho, do voto, defenderia acerrimamente a legalização da escravatura caso garantisse o acorrentamento da Câncio e do Rui Tavares. Mas não dava um cêntimo pela parelha.
Durante séculos e até à proliferação das redes sociais, foi inexcedível o papel social da imprensa, informando além fronteiras, distâncias. A extinção é cruel e dolorosa, mas merecida, desviado o foco do que foi para suportar agendas obscuras. Não me estenderei sobre o mal que a imprensa faz (e fez), mas sobre o bem que não faz. Cronistas com destaque, influência e capital de atenção, têm a obrigação moral de alertar os concidadãos para as ocorrências na nação. Dos incêndios em Bragança às quebras de produção olivícola no Alentejo, das apreensões maciças de droga em Viana do Castelo (e também Trás-os-Montes), à forma como o banco público – gerido pela mui socialista geringonça – condenou um concelho com 7000 pessoas e 9 séculos de história ao desaparecimento através da extinção do único interposto bancário no município. Estas questiúnculas (e muitas outras) são aquelas que afligem os Portugueses quem, à semelhança de Joaquim Barreiros, “não sabem o que é um homossexual ou um homofóbico, mas sabem o que é um paneleiro”. Os Portugueses que não frequentam a Gulbenkien.
Porque nem quando ganhava 15000 € mensais para os representar em Bruxelas, Tavares, alguma vez quis saber dos herdeiros do V Império, realizou um esforço inglório e ignóbil de importar uma quezília forasteira. O mercado recusou o produto experimental. Logo a dondoca do José Sócrates, regressou à carga. Querem à força que nos consciencializemos dum problema que não é nosso, ignorando os problemas que são. Pior, não fazem mais do que papaguear uma cassete estrangeira insistentemente na vã tentativa de que à semelhança de outras inanidades, acabemos novamente gastando tempo vital em não-assuntos, debates vazios, desnecessários, inúteis. Quer a inútil parelha parentear um transgenderismo torrado e não é só o mutuo fetiche afro-lusitano que os impele. É mesmo falta de vergonha.

O linguajar é hediondo mas deve ser sublinhado. “O Grande debate que se impõe”, a que “Não há como escapar”. O contraste entre “aquelas riquezas e aquelas pessoas” e “aquele ‘ímpio e desumano abuso'”. O bicho papão: “A realidade não foi ignorada — mas, como é infelizmente hábito, demasiado rápido se passou à frente”, “os silêncios e eufemismos”, “a história” que “aí nem começou”. A mentira – acusa Tavares “o papel pioneiro — e cimeiro — que Portugal teve no tráfego de escravos?” mas a escravatura é intemporal e anterior à nossa nobre existência. Folheando um livro do 6º ano – o que seria estranho à luz da ausência de prole mas perceptível à presença de uma amizade íntima com Paulo Pedroso – Câncio insurge-se contra a linguagem empregue. Aqui está novamente a vitimização, fala de “institucionalização do silêncio” e depois (na segunda tentativa), das “ideias relacionadas com o colonialismo português” que “o pós-25 de Abril não foi capaz de deitar abaixo”, o “branqueamento”. Há uma conspiração em Portugal para não se falar de escravos, mas são os intrépidos jornaleiros quem a vão desmascarar! Até importaram um tipo qualquer do Ohio para inventar “O que está em causa é que a obstinação em não reconhecer a responsabilidade nacional na história nacional implica uma admissão involuntária de culpa não resolvida, como uma desonra familiar que se esconde dos hóspedes” antes de citar Sophia (quem mais?). A pretensão é de nos “educar”, ao lado de Seixas da Costa e Valle de Almeida. E uma carta onde assinam estrangeiros e indivíduos quem gostavam de o ser.
Choca-me como esta trupe (a mesma trupe!) não se apercebe da irrelevância de tudo isto. Na escolinha aprendi que depois de escravizar, Portugal, foi o primeiro país a abolir a prática, que o fez quase 100 anos antes dos USA onde o fim da escravatura resultou numa guerra civil, que esse é um país cuja quantidade percentual de pretos é relevante no contexto nacional (em Portugal não é) e que tem episódios esporádicos e segmentados de discriminação racial (Portugal não tem), razões pelas quais algumas destas discussões aí fazem sentido (aqui, não fazem!) Verdade ou não, facto é que o interesse pelas reminiscências tanto me cativaram que saí da última aula de história aos 14 anos para não regressar mais. Compreendo a pretensão de congregar e dirigir fundos públicos para escarafunchar no armário à procura de esqueletos – afinal é com essas alocações que esta gente paga contas (tirando a Câncio que vive à conta da família e do Carlos Santos Silva). Mas não queiram impor um complexo de culpa a 10 milhões de Portugueses que nada têm a ver com o passado esclavagista do rectângulo.
É uma antítese ideológica para Rui Tavares – o anão mais esquerdo-europeísta do país – mostrar tamanha preocupação com a história Portuguesa. Num contexto federalista como aquele que deseja, o nosso caminho individual torna-se irrelevante e dilui-se na dinâmica continental onde estivemos em cocorrente com circunstâncias culturais das diferentes épocas – Porque não discutiu a ocupação do Congo Belga durante os anos em que viveu em Bruxelas? Paralelamente, é a direita quem – tendo no cerne da sua existência a filiação e a hereditariedade – deveria incomodar-se com as malfeitorias predecessores. As identity politics são aliás uma linha de pensamento tradicional e conservadora pois acomodam em torno de uma característica singular (serem pretos, maricas, travecas) uma população independente, outorgando-lhe um lugar diferenciado pela identidade (nata) e não pela produção (adquirida). Na óptica do Tavares (e compagnons de route) é indigno herdar títulos, propriedade e capital, apenas podemos herdar culpa.
Além de se abastecerem nas insanidades Americanas, adquirem também consciência social através da bíblia: Como bem reparou o Victor Cunha, imputam-nos o pecado original e chamam-lhe “Culpa do Homem Branco” ou privilégio para nos fazer vergar à sua magnificência. Não passam de uma cambada de fascistas.
Tavares podia escrever sobre a escravatura vigente em Portugal e não falo dos servos do Senhor Dom. Centeno a quem chamamos de contribuintes. Mas dos homens de leste que em pleno século XXI e todas as madrugadas, apanham ameijoa e berbigão na margem do tejo, dos médio-Orientais que trabalham o campo nalgumas grandes produções do Ribatejo onde a família de Câncio tem nome e terras, dos chineses no Alqueva (não foi esse um projecto suportado por fundos públicos?) onde os empresários do regime alicerçaram as suas fazendas. Todavia não o fará. Afinal, acontecem nas quintas dos amigos do regime, os tipos que financiaram a existência do LIVRE Lda., unipessoal; Acontecem durante o governo de São Costa, o negro-negreiro que quis colocar refugiados sírios a limpar as matas nacionais ; Aconteceram com outros caucasianos e orientais e são pois irrelevantes. Só-lhe interessa “a escravatura a partir de África”. Rui Tavares é racista.

Mas pelo Amor de Deus, parem de falar de racismo. Não existe racismo palpável em Portugal – existirá em alguma parte? Convivemos 8 anos com um presidente americano preto e dois com um primeiro-ministro monhé. Gostaria de igual forma de escravizar o último. Mas temo que, primeiramente, ele nos escravize a todos.
3 thoughts on “Pelo regresso da escravatura”