Tal como o feminismo, a Esquerda moderna descambou num cômputo de causinhas, pelejas, excentricidades e controvérsias, que serve todos os gostos e feitios (e clientelas). Só não alberga uma: a da Igualdade
Um dos alvos preferenciais da Esquerda Portuguesa – Isabel Jonet – dirige uma instituição que apoia cem mil Portugueses carenciados. Outro desses alvos, António Pinheiro Torres, fundou e dirigiu a Ajuda de Berço cuja actividade apoiou dezenas de milhares de crianças (e famílias) ao longo dos anos de actividade. O mais recente saco de pancada, José Diogo Quintela, investiu os vencimentos de uma década e meia de entretenimento para empregar para cima de mil conterrâneos. Deram mais ao povo do que os os líderes da geringonça, mas não o têm sempre na boca.
A hipocrisia não termina aí. No texto “O complexo de esquerda” João Luís César das Neves denota como, enquanto garante proteger os mais fracos, a Esquerda apela à morte de recém-nascidos e incentiva o suicídio dos idosos, quem condenou à miséria depois de esbanjar os fundos da segurança social com tratantes e indigentes. A Esquerda diz-se progressista, mas não há nada mais estático, antiquado e conservador, do que a sua visão para a economia ou para o funcionamento do mercado de trabalho; Aquando da liberalização do respectivo código nos anos da Troika, aliás, o PCP era sempre mencionado como a ala conservadora do parlamento, longe da sua popular fundação vanguardista. O que pode ser inovador numa revolução permanente?
Apesar de ter sido fundada, como contraponto ao imperialismo e nacionalismo dos séculos XIX e XX sob o pomposo cunho de “I Internacional” (sucedendo-lhe a II, a III e a IV de Trotsky), abundam apelos patrióticos entre os nossos MRPP, PCP, BE, movimento Que-se-lixe-a Troika (Passe-se a rednudância) e mais recentemente até PS, como abundaram na Albânia de Enver Hoxha ou na Rússia de Iossib Stalin, os apelos ao passado perdido, à saudade imperial. Rivalizariam com o saudosismo de Giulio Cogni, Charles Maurras, Rolão Preto ou António Ferro. A Esquerda que recusou a integração Europeia, a adesão à NATO, a formalização de acordos pontuais de comércio livre, tem o descaramento de bradar como a sua luta é internacional. E a sua necessidade de regular o trading, honrado e funcional é tão mais ostensivo quando exigem a desregulação da prostituição ou da venda de marijuana. Para que um capitalista obtenha o beneplácito de um esquerdista, urge que seja concomitantemente um meliante.
O seu supremo egoísmo está na cruzada pelo veganismo, demandando um grande salto em frente nos hábitos alimentares, dedicado certamente a repetir o feito de 58-60. Não traria só a fome mas também a destruição dos milhões de postos de trabalho que a pecuária providencia. Conhece-lhes pelo menos o respeito pela discordância, quem na porta do campo pequeno os ouviu gritar preferências sobre ver estripados toureiros a touros . Quo humanismo?
Nos últimos anos em que as crises económicas se sucederam e o fosso social e remuneratório alargou, a Esquerda cambiou os necessitados pela comunidade LGBT. E quanto esta adquiriu dimensão e influencia e se constituiu como lobby transversal ao poder político, a Esquerda arquitectou o transgenderismo para que, em seu nome, pudesse travar imprescindíveis batalhas sociais. Revolviam as vítimas do capitalismo, os pequenos agricultures a quem as quotas condenaram, os operários cujos postos de trabalho soçobraram face à sino-concorrência, mas de costas voltadas para as fábricas e, claro, para os campos, a Esquerda priorizou essa classe uber-desfavorecida que são os homens que queriam ser mulheres ou o contrário. Quando estes não foram suficientes, forjaram uma panóplia de géneros e tendências novas aos quais urge adesão para minorar o belzebútico privilégio. Não passa de uma estratégia para nos inferiorizarem colectivamente.
Aceito, claro, a opção médica, respeitável e perfeitamente válida de escambar o sexo – tão válida como a opção de ser homossexual. Mas a lógica incutida aos activistas do género, é que os LGBTQXPTO nasceram nessa infeliz condição, que lhes outorga primazia, quotas e direitos. O determinismo, outrora propriedade da Direita – monárquica, nobiliárquica e patriarcal – pertence hoje aos filhos da revolução de inverno. Procurarão quiçá formar um exército côr-de-rosa.
Como os senhores feudais do Ancien Régime, usufrutuários por prerrogativa berçária da colecta fiscal, esta minoria prepotente exige, em razões da sua condição de nascença, apropriar-se do erário colectivo para satisfazer caprichos onerosos. À mesma semelhança, julgam ter o direito. E ainda nessa semelhança, atacam impiedosamente os contestatários. Mas, a sua não-existência – There is no such thing as trans-people – põe a desnudo a essência da Esquerda actual que se dedica a fantasiar minorias extravagantes enquanto ignora a massa crítica cujo poder de compra e qualidade de vida não acompanhou o das elites cosmopolitas. Os grupelhos queer , indiscutivelmente urbanos, maioritariamente litorais e burgueses, representados por académicos bem assalariados, são o último refugo do simulacro da luta de classes realizada integralmente à revelia dos populares. A Esquerda do Século XXI prefere inventar oprimidos a ter de lidar com os pobres.
PS – Corrigido a 6/2/17 quanto ao tipo participação do Dr. António Pinheiro Torres na meritória Ajuda de Berço, com agradecimentos ao reparo e calorosas saudações de boas-vindas ao blog.
Caro amigo ou amiga: obrigado pela referência que me faz no post acima e de que tomei conhecimento por uma das minhas filhas (que por sua vez o soube de um amigo). No meu caso a referência é imerecida mas justa em relação ás outras pessoas da nossa área social e politica que não se limitam a emitir opiniões mas originaram ou gerem importantes obras de apoio social ao contrário do “outro lado” que, como se diz popularmente, “falam, falam, mas não os vejo a fazer nada”…;-)
Quanto à Ajuda de Berço não só não a financiei, limitei-me a ajudar a respectiva fundação e integrar o respectivo grupo promotor desde então (formalmente sou presidente do Conselho Fiscal da associação) como o objecto social é o de acolhimento de crianças sendo que em paralelo de facto trabalha-se com as respectivas famílias para que estas fiquem em condições de as receberem de volta (o que acontece em 2/3 dos casos) conforme se pode ver pelo site http://www.ajudadeberco.pt.
Ao acolhimento de mães em sentido estrito dedicam-se entre outras a Ajuda de Mãe e o Apoio à Vida cujos sites são: http://www.ajudademae.pt e http://www.apoioavida.pt
Um abraço e obrigado! Antonio Pinheiro Torres
A
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