Trump e a democracia

A eleição na qual Trump concorreu, obedeceu escrupulosamente aos princípios teóricos mas também formais da democracia mais consistente do mundo. À lupa democrática, nos boletins, Trump foi o pior dos candidatos , “à excepção de todos os outros”.

Por razões que extravasam o âmbito deste texto, deixo claro que não votaria em Trump sob circunstância alguma. Saí assim derrotado do acto eleitoral, apesar de não haver participado nem focado especial atenção, desalentado com a alternativa. Porque perdi muitas eleições na vida – muitas mais do que ganhei – o dia seguinte nasceu, tranquilo e sereno. As múltiplas instituições do seu país, muito mais abertas e representativas do que desta parte do Atlântico, encarregar-se-ão de regular quotidianamente a actividade do presidente em meu lugar – de cidadão pontual – como lhes compete.

Tenho feito o reparo de que a maioria dos eleitores participantes (uma maioria de 2864903 pessoas para ser mais exacto) preferiu a oponente de Donald ao presidente eleito; Esse reparo serve porém para condenar os que preferem delatar o eleitorado Trumpista a escrutinar a actividade do novo Presidente. Sou, claro, crítico do sistema eleitoral Americano, um que prejudicou cinco vezes o meu entendimento acerca do significado da palavra “maioria” e, por duas vezes, os candidatos por quem torci; Esse é, no entanto, muito anterior e independente a George Walker Bush e a Donald Trump, legitimando novamente a sua vitória. A recente alteração dimensional aos círculos eleitorais de estados como o Maine ou o Nebrasca podem vir a solucionar este problema.

A vitória não deixa de estar associada a uma campanha baixa, onde nenhum dos lados primou pela cortesia e sucessivamente se faltou à verdade. É contudo factual que a mesma nunca foi tão escrutinada como no preciso momento da história e, consequentemente, que a história democrática estará repleta de logros. A inexactidão de Trump vale-lhe chalaças, acusações e opróbrios aos seus fãs, mas era conhecido o desprimor de Mário Soares pelos “números” e este ex-governante pereceu recentemente como um herói político. Maior é a inexactidão de muitos críticos enternecedores que desfilam na embaixada americana contra a persona pública do presidente mas plagiam o seu programa económico nos bancos do parlamento Português

Será  por ventura a esses que é dirigida a declaração de Bernie Sanders no desfecho da noite eleitoral: “To the degree that Mr. Trump is serious about pursuing policies that improve the lives of working families in this country, I and other progressives are prepared to work with him. To the degree that he pursues racist, sexist, xenophobic and anti-environment policies, we will vigorously oppose him.” – o foco racional no debate politico por alternativa ao foco emotivo no protagonista. Fazer da manifestação um hobby tem tanto de desprestigiante como de infeliz e por muito que tenha sido um instrumento valioso, nos anos da Troika, para validar o mediatismo de muitos protagonistas Portugueses, não deixa de ser ter o seu quê de desrespeitoso para com o sistema democrático.

Observo assim e no meu primeiro post, a injustiça que representa o boicote ao mandato político de um caloiro na actividade (Trump nunca exerceu funções até à eleição presidencial) no seu primeiro dia de trabalho. É, todavia, um excelente medidor do sentido democrático de quem por estes dias (e em muitos outros no passado) se bamboleia publicamente exigindo o desrespeito às regras do jogo. No primeiro dia do resto do seu mandato, Trump pôs a descoberto os inimigos do poder popular – É o que eu chamo de Serviço Público.

Author: Myrddin Emrys

Apaixonado por ciência e política, nesta ordem. Igualitarista obsessivo. Por essa razão, odeia o feminismo e persegue a hipocrisia da Esquerda moderna que abandonou (com requintado desprezo) o combate à pobreza trocando-o pela promoção erótica de marialvas, hedonistas e pervertidos. Sou Português, pequeno burguês. Artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro.

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